30 de outubro de 2011
Despedida
Li esse texto em uma prova da escola e achei muito bonito...
E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma
despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como
às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a
por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a
última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se
encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu
lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.
(Rubem Braga)
28 de outubro de 2011
27 de outubro de 2011
a moça do vestido verde
Discreta, ela atravessa a rua em linha reta.
Todos os dias a vejo passar no mesmo horário.
O vestido ligeiramente comprido,
cintura no lugar, bolsa na mão.
No pescoço, o cordão e o escapulário.
Ela não olha para os lados.
Para quê?
Mulheres são indecentes, homens safados.
O melhor é fingir que não vê.
E os camelôs e as suas barracas ilegais?
Ela arrisca um olho
seduzida pelo barulho colorido,
mas logo se arrepende e não olha mais:
seu recato não permite resvalar no proibido.
Ontem, a moça do vestido verde deu um encontrão
no rapaz de bigodinho, pasta, perfume, colarinho;
o conteúdo da bolsa espalhou-se pelo chão.
Constrangido, ele ajudou a moça do vestido,
pediu desculpas, beijou-lhe a mão.
Hoje, eu a vejo passar na hora certa.
A bolsa, a cintura no lugar, a postura ereta.
Ela para, olha para os lados, retoca-se no espelho.
A moça segue radiante. O vestido é vermelho.
"A Moça do Vestido Verde" - Flora Figueiredo
24 de outubro de 2011
9 de outubro de 2011
- ninguém em casa...
seus sentimentos, ela esconde
seus sonhos, ela não consegue encontrar
ela está perdendo a cabeça
ela foi deixada pra trás
ela não consegue achar seu lugar
ela está perdendo a sua fé
ela caiu em desgraça
ela está por todos os lados
ela quer ir pra casa, mas ninguém está em casa...
(Trechos da música "Nobody's Home" da Avril Lavigne)
8 de outubro de 2011
sempre você!
e não importa o que eu faça; não importa o que aconteça: você é o único que eu quero...
(Munique R. Novaes)
gostinho de liberdade
e de repente desejo abrir a janela e sentir o vento soprando os meus cabelos. abrir a janela e voar... pra bem longe.
(Munique R. Novaes)
7 de outubro de 2011
- incrível
é incrível o fato de que, com tão poucas atitudes, você
ganhou meu coração. e o pior é que, depois de tanto tempo, ele ainda está
contigo.
(Munique R. Novaes)
- voar
eu quero voar, mas tenho medo de altura
o céu azul me dá tontura...
("vivendo e aprendendo" - Capital Inicial)
3 de outubro de 2011
- estado estático
Vontade, mas nada a dizer. Vontade, mas nada a fazer.
Vontade, vontade e vontade... mas tudo o que vê são as paredes. Quatro. Quarto,
sala, cozinha. E o sol... Grande Sol, pela janela. Também o céu. Às vezes
escuro... mas não será noite? Se é noite, onde estão as estrelas? Poluição?
Poluição! Na pele, nos olhos, nariz. Respiração... com dificuldade. Quanto
tempo até chover? Chover forte, muito forte, extrem... mas onde os pássaros se
escondem quando está chovendo? Terão eles uma lareira para se aquecerem...?
Nirvana... Nirvana é bom. Mas o Grunge só faz piorar. Que baixaria! Vontade,
mas dessa vez há como resolver. Cuspir na folha? Isso é uma vontade, mas não a
faz. Então resolve parar onde está. E continuar em estado estático. Rasgar ou
não rasgar? Eis a questão... E o Cobain continua, e o Grunge continua, e a
vontade continua... mas permanece onde está. Já chega!
(Munique R. Novaes)
Quem sabe ainda sou uma garotinha..
Cansada com minhas
Meias três quartos
Rezando baixo
Pelos cantos
Por ser uma menina má...
Meias três quartos
Rezando baixo
Pelos cantos
Por ser uma menina má...
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta
E não aprendi a amar...
Um pouco de malandragem
Pois sou criança
E não conheço a verdade
Eu sou poeta
E não aprendi a amar...
(Trechos da música "Malandragem" de Cássia Eller)
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